quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CRÔNICAS JAGUARUANENSES

Fagulha de expressões lúdicas do semi-árido!

Os pés empoeirados de massapé saltitavam por entre urtigas, pés de cardeiros e carrapichos, devorando frutos de carnaúba montado num cavalo de talo. Lembrança essa que ainda escorre por dentro da mente daquele menino franzino, cabeça disforme (bem cearense) e pernas finas. Infância bendita longe das coisas contemporâneas, igualmente um índio e/ou – quem sabe – um homem primitivo. Tudo tinha uma feição imagética, até mesmo o pouco vento incorporava um tufão que dificultava os galopes do cavalo de talo por entre as veredas sertanejas. Não faltavam histórias, geralmente quixotescas, ainda que não houvesse moinhos de ventos e Dulcinéia. Sanchos e Dons Quixotes não faltavam, empunhando espadas de angicos, carnaúba e mutamba, sem armaduras e elmos.
O córrego próximo a casa do menino franzino de cabeça disforme e as penas finas era um afluente de águas turvas infestado de peixes, muçuns, sanguessugas e rodeada de uma belíssima caatinga. Cenário perfeito para meninos que eram carentes de brinquedos, mas ricos de imaginação. Pedaços de ossos tornavam-se vaquinhas e bois de uma rica fazenda; lata de sardinha, pregos, pedaços de tábuas e tampinhas de metal artesanalmente virava um conversível invejável; e quando nada mais se tinha, faziam as brincadeiras de roda, bandeirante, esconde-esconde, pega-pega, passarinho no ninho e cobra no buraco, sete pecados, cavalaria e outras infindáveis expressões lúdicas que tornavam nossa infância no semi-árido muito mais agradável.           
                Hoje a se ver os meninos franzinos se digladiando diante de um Playstation, amontoados de brinquedos de todas as espécies, mp3, IPOD, IPAD, notebook’s, percebe-se que o exercício de imaginação que contribui na capacidade cognitiva perderá alguns pontos com advento abrupto dessas novas tecnologias. Ainda que se entenda que seja o progresso dos tempos, preocupa-se a extinção das brincadeiras e brinquedos populares tão importantes no universo da cultura popular do semi-árido nordestino.

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