ODE A MINHA TERRA
Lá o tempo é letárgico morosamente prazenteiro, empurrado pelos cantos dos galos e os sons dos batelões1. Não há pressa. O relógio, por vezes, sente-se inútil e tenta suicídio pulando da ponte do João Gomes. A vida anda de pés descalços sem se importar com os dribles da morte, toma uma cachacinha e come um sarrabulho no mercado velho. A morte senta-se na calçada e conversa com o “Sardanha” que balbucia: “Morrer é bom, né?”. As ruas de pedras toscas testemunham os estalos dos cacos dos jegues tocando o chão, os gemidos das carroças d’água, os tangidos de seus carroceiros, o leiteiro, o homem com o balaio de pão sobre a cabeça e as mulheres carregando inúmeras redes nos ombros. Os lunáticos tomam a cidade como se fossem conquistadores ibéricos, fincando suas bandeiras em nosso imaginário.
Quem não conhece a cidade pode achar que se trata de mais uma cidadezinha esquecida no tempo, mas o que poucos imaginam e presumem é que essa cidade guarda no seu interior a força de uma locomotiva. Minha cidade assemelha-se a caatinga que se apresenta seca e aparentemente sem vida, omitindo dos olhos leigos as suas riquezas imensuráveis.
(1)Nome dado ao local do fabrico de redes de dormir, onde acontece quase todo o processo produtivo.
Eu nasci em Jaguaruana e fui adotada por uma família norte-riograndense. Gostaria imensamente de conhecer minha cidade natal e, obviamente minha mãe biológica que, provavelmente ainda reside em Jaguaruana. Um abraço cordial.
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